segunda-feira, 23 de março de 2020

O formato PDF e o acesso à informação e conhecimento

Neste artigo, vamos fornecer algumas informações e dicas, para facilitar a utilização deste formato pelos leitores e estudantes com deficiência da visão, bem como deixar métodos práticos de como ultrapassar a barreira da inacessibilidade ao texto contido no documento.
É evidente que isto se aplicará sobretudo, num contexto de formação e disponibilização de informação escrita ao público.

Com toda esta nova situação que estamos a viver, escolas e instituições recorrem ao trabalho em casa, para assegurar o necessário distanciamento social.
Assim, muita da informação com que estudantes e trabalhadores com deficiência da visão têm de lidar, está contida em documentos no formato pdf, que é cada vez mais utilizado.

Uma das principais ideias por trás deste formato, é ter a mesma aparência visual em qualquer dispositivo, em qualquer plataforma.
Por exemplo: Quando é produzido um conteúdo pdf num computador windows, com as ferramentas análogas, ele pode também ser consultado e até editado num computador com o sistema mac, ou num dispositivo portátil com o sistema Android ou IOS.

Numa primeira abordagem, os documentos pdf tinham o objetivo principal de ser impressos, mas agora, existe todo o tipo de possibilidades de, não apenas imprimir, mas editar, até porque a impressão só é uma opção em alguns casos, e cada vez mais se utiliza o formato de texto eletrónico.

Um dos exemplos mais comuns, é o dos formulários.
Podemos descarregar conteúdos como declarações, certidões, comprovativos, de  serviços e outros documentos que é necessário preencher, em formato pdf, incluindo os formulários onde vamos colocar a informação solicitada.

No entanto, o utilizador com deficiência da visão, depara-se muitas vezes com uma dificuldade; em muitos casos, o conteúdo do documento está numa imagem. Pode ser lido visualmente, mas um leitor de ecrã não lê diretamente essa informação, e a pessoa cega fica sem conseguir consultar o documento.

Aqui, cabe também ao utilizador/leitor cego ou amblíope, o papel de informar e indicar possíveis formas de ultrapassar o problema.

Em contexto de escola ou formação, a impossibilidade de ler ou editar um documento inacessível, pode colocar o aluno ou utilizador cego em desvantagem, já que nem sempre o formador ou professor está por dentro das questões relacionadas com a acessibilidade.

Assim, uma solução é já possível aquando da criação e disponibilização do conteúdo. Não é raro que o documento pdf partilhado com a turma, seja uma foto tirada com o auxílio de uma câmara digital, a partir de um documento de texto criado previamente num programa como o Word, por exemplo. Para evitar o constrangimento de ser fornecido um conteúdo pdf inacessível, o próprio utilizador ou estudante com deficiência visual, poderá solicitar, sempre que possível e apropriado, que lhe seja enviado o documento em formato de texto. Isto garante que, na sua especificidade, todos terão acesso ao conteúdo.

Mas, e se o próprio documento no formato word tem embutida a imagem com o texto? Aí, os leitores de ecrã por si só, também não vão ser de grande utilidade. Para esse efeito, poder-se-á contar com a tecnologia OCR, reconhecimento óptico de caracteres. Existem vários programas que fazem esse reconhecimento, seja como aplicações autónomas, ou funcionalidades internas ou extras dos leitores de ecrã.

As ferramentas de OCR são cada vez mais variadas, e estão disponíveis, muitas delas, a partir de um dispositivo portátil como um tablet ou telemóvel, já que no presente, todos estão equipados com câmara fotográfica.
Cabe ao utilizador/leitor com incapacidade visual, ser o mais competente e produtivo possível no manuseio dessas ferramentas, bem como usar aquela que melhor se adapta à necessidade no momento. Felizmente, está disponível um vasto leque de escolhas, entre ferramentas pagas e gratuitas.

Contudo, há que não esquecer que o reconhecimento óptico de caracteres não é a solução perfeita, pois é sempre possível ocorrerem erros e outras inconsistências no processo.
Exemplificando, datas, informações numéricas, ortografia e outras situações, podem fazer que a informação disponibilizada ao leitor/utilizador cego, seja incorreta ou insuficiente.
Uma das formas de prevenir esta desvantagem, é, sempre que possível, quem disponibiliza o conteúdo, tenha o cuidado de corrigir as possíveis inconsistências e erros no texto, que o OCR não conseguiu evitar.
Isto dará a garantia de que todos tenham acesso à mesma informação, e ao mesmo tempo, independentemente de terem ou não incapacidade visual.

Mas, e se quem disponibiliza o conteúdo tiver interesse na integridade e confidencialidade da informação, preferindo manter o documento em formato pdf de imagem?
Nesse caso, o leitor&utilizador cego poderá solicitar que quem lhe fornece o documento, antes de validá-lo e protegê-lo, lhe faça chegar uma cópia apenas do texto do documento. Para tal, seleciona a totalidade do texto, copia-o, e cola todo o conteúdo num ficheiro do bloco de notas, seja no windows, ou do editor correspondente no operativo Mac. Assim, é preservado o texto na íntegra, e quem disponibiliza a informação, pode incluir notas adicionais como descrição de imagens relevantes para o leitor.

Quase sempre, é difícil compatibilizar acessibilidade com segurança, e a experiência, aliada ao desenvolvimento das tecnologias em contexto, demonstra que nada é inviolável. Por isso, o argumento de que quando se torna um documento acessível ele perde segurança, tem as suas fragilidades, além de que a acessibilidade é um critério obrigatório, quando se trata de informação escrita disponibilizada ao público, ou no âmbito da formação inclusiva.

A melhor forma de prevenir situações de inacessibilidade, é criar de raíz um conteúdo pdf que seja acessível a todos, e isso deve ser um critério seguido por todas as instituições como escolas, repartições, serviços públicos, etc.

O documento pdf deve ser em texto, devidamente estruturado, e deverá incluir descrição de imagens e outros elementos gráficos que um leitor eletrónico de ecrã não deteta na origem.

Os mesmos princípios devem aplicar-se tanto a um documento mais pequeno como uma ficha ou certidão, como a todo um livro eletrónico vendido ou disponibilizado on line.

Com o contributo de todos os envolvidos, o acesso à informação e conhecimento nesta era digital, será mais fácil e rápido, com o objetivo de que todos em simultâneo e de igual forma, o possam conseguir.